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Entrevista com o Juiz Robson Louzada e sua visão da vida

 

  Robson Louzada Lopes, 33 anos, filho do motorista/fretista Francisco de Assis Lopes e da costureira Luzia das Dores. Estudou no Bernardino Monteiro, Cristo Rei, Imediato, Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim (FDCI) e fez pós-graduação em Vitória. Essa é basicamente a origem de um dos principais juízes do município. Você pode até estar se perguntando agora: “um juiz que veio da classe baixa?”. Sim. É isso mesmo. Robson Louzada, da Vara da Fazenda Pública Municipal, foi criado na Samuel Levy e conta que em épocas de chuva era obrigado a sair de casa, porque ficava tudo alagado. Em sua trajetória, começou a perceber que seus amigos de infância estavam começando a se envolver com a criminalidade. Foi quando seus pais se desdobraram para colocá-lo num colégio particular. Época essa que, segundo ele, a mensalidade da escola consumia 50% do orçamento familiar, em média. O contraste de realidade foi imediato e mexeu com a percepção de mundo de Robson Louzada. Quanta desigualdade. É preciso fazer alguma coisa, pensou. Desde então, na época do ginásio colegial, ele vem tentando contribuir positivamente para o meio que vive. Conhecer “os dois lados da moeda” foi fator preponderante para a construção de seus ideais. Tornou-se idealista. Combativo. Insistente. Hoje, quem o vê em meio a uma papelada de processos, terno e gravata, não imagina o seu coração revolucionário, que usa a Constituição para aplicar a lei de forma imparcial. Suas ações vão além de suas atribuições profissionais. Robson Louzada desenvolve projeto social com a Liga Urbana de Street Ball, onde adolescentes jogam basquete e, entre eles, alguns são selecionados e ganham bolsa para estudar em escola particular.

Quando o senhor decidiu que iria ingressar no Direito e, por fim, ser juiz?
“O Direito, para mim, é a principal ferramenta para mudança de uma sociedade. Acredito até que o Direito deveria compor a grade nas escolas fundamentais. E ser juiz foi uma escolha equivalente aos meus ideais. Sou idealista e se estiver num ambiente injusto, tento mudá-lo. Gosto de fazer a diferença e trabalhando no judiciário isso se torna mais prático”.

Em sua opinião, faltam jovens idealistas hoje nas faculdades?
“Sim. Hoje, quando estou dando alguma palestra e pergunto quem gostaria de fazer concurso, 90% levantam a mão. Mas quando pergunto “por quê?”essas mesmas pessoas respondem que é por conta da carga horária “meio expediente” e do salário razoável”.

Como é para o senhor ter apenas 33 anos e já fazer parte do magistrado desde os 25?
“As pessoas imaginam que somos alienígenas, que estudam 24 horas. Mas não. Uma vida regrada e metódica me permitiu chegar até aqui e, hoje, me sinto mais responsável, porque você acaba sendo referência para outras pessoas e, em minha opinião, se é para ocupar um cargo como o meu, que seja para mudar o país. De omissos e corruptos já estamos cheios”.

E o que um juiz de Direito faz para se divertir?
“(Risos) Levo uma vida normal. Freqüento restaurantes e danceterias aos finais de semana, ou festas de interior, as vezes vou a Vitória, enfim… Gosto de relaxar e me divertir no sábado e domingo”.

O senhor almeja algum outro cargo no Poder Judiciário?
“Ainda não. Sou cachoeirense, fui criado e estudei aqui, então, para mim, é nessa cidade que vou cumprir minha missão. Ser desembargador, por exemplo, exige que a pessoa more em Vitória. E quero contribuir muito ainda com Cachoeiro, principalmente, conscientizando que é a educação o fator diferenciado para mudar a vida das pessoas”.