Pedro Valls Feu Rosa
No já distante ano de 1618 um holandês de nome Dierick Ruiters deu um marcante testemunho acerca do que foram os anos de escravidão no Brasil: “Vi, certa feita, um negro faminto que, para encher a barriga, furtara dois pães de açúcar. Seu senhor, ao saber do ocorrido, mandou amarrá-lo de bruços a uma tábua e, em seguida, ordenou que um negro o surrasse com um chicote de couro.
Seu corpo ficou, da cabeça aos pés, uma chaga aberta, e os lugares poupados pelo chicote foram lacerados a faca. Terminado o castigo, um outro negro derramou sobre suas feridas um pote contendo vinagre e sal. O infeliz, sempre amarrado, contorcia-se de dor. Tive, por mais que me chocasse, de presenciar a transformação de um homem em carne de boi salgada e, como se isso não bastasse, de ver derramarem sobre suas feridas piche derretido. O negro gritava de tocar o coração. Deixaram-no toda uma noite, de joelhos, preso pelo pescoço a um bloco, como um mísero animal, sem cuidarem de suas feridas”.
Exatos 250 anos depois, Joaquim Nabuco alertava sobre o vírus da violência, da falta de piedade e de compaixão que os anos de escravidão inocularam na sociedade brasileira. A escravidão, escreveu ele, “vivendo com a sociedade intimamente, adaptou-se a ela, comunicou-lhe os seus vícios, carregou de sombras o seu futuro”.
Já nos nossos dias, o escritor Jean Marcel Carvalho França bem analisou o custo desta “herança de insensibilidade” que recebemos: “nunca é demais lembrar que o “flagelo do cativeiro de negros” durou mais de três séculos entre nós e foi, queiramos ou não, constitutivo daquilo que entendemos por sociedade e povo brasileiros. É difícil crer que, alicerçada em tais bases, esta mesma sociedade, tradicionalmente muito lenta em corrigir distorções e reticente em discutir e alterar padrões, pudesse ou possa produzir um “povo pacífico”, um povo de “bom coração”, como se costuma dizer”.
Estas palavras induzem – ou pelo menos deveriam induzir – uma profunda reflexão sobre algumas cenas que vemos em nosso dia-a-dia, as quais, apesar de chocantes ao extremo, têm sido tratadas com uma insensibilidade surpreendente.
Inicio pelas cenas de doentes depositados no chão de corredores imundos de alguns hospitais públicos, gemendo e suspirando pela oportunidade de simplesmente ocuparem uma maca. Não, não se diga faltarem recursos: um Brasil que gasta tanto com tantos supérfluos tem, sim, recursos para dar um leito de hospital aos seus filhos.
Somos mesmo um povo solidário? O que dirão nossos descendentes ao saberem que, em diversos hospitais particulares, muitas vezes seres humanos gemendo de dor são recebidos nos Prontos-Socorros com a pergunta “você trouxe a carteirinha?”, e apenas atendidos após estar garantido o pagamento das despesas?
Dia desses divulgou-se uma chocante pesquisa segundo a qual ocorrem no Brasil quatro linchamentos por semana. Constatou-se ainda que, dentre 20 mil linchamentos pesquisados, apenas uma pessoa foi punida. O autor da pesquisa, estimando que 50% da população suporte, ainda que não claramente, esta prática, concluiu que “já não somos um povo cordial”.
Em nossos morros e favelas diariamente morrem 20 crianças por falta de esgoto sanitário – apenas 25% dos brasileiros que residem em cidades são atendidos por rede de esgoto, e só 12% dos dejetos são tratados. Uma vez mais, não se fale em “falta de recursos” – um país riquíssimo como o nosso, que só em propaganda oficial gasta mais de R$ 1 bilhão a cada ano, poderia sim salvar as vidas destas crianças.
Talvez, neste início de milênio, mereça mesmo alguma reflexão a responsabilidade que temos de deixar para as futuras gerações de brasileiros a mensagem de que sentimentos como solidariedade e compaixão são nobres e devem ser cultivados. É, talvez seja o momento de nos perguntarmos se estão abalados os sentimentos de fraternidade e religiosidade que nos ensinaram serem tão típicos da nossa gente.
Pedro Valls é desembargador, presidente do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES)
Capa da Folha do ES Dia 19/08/2012
Capa da Folha do ES Dia 18/08/2012
Ferraço perde de 6 x 0 no TRE sobre compras de votos em 2008 pelo PT
O presidente da Assembléia Legislativa do Espírito Santo, Theodorico Ferraço (DEM) tem perdido todas na Justiça, basta lembrar de sua inelegibilidade para o pleito em curso em decorrência de duas condenações por colegiado em segunda instância, envolvendo improbidade quando prefeito de Cachoeiro de Itapemirim.
Desta vez, perdeu em segunda instância, por 6 x 0 , no TRE, a ação ajuizada por ele em 2008, acusando o prefeito eleito, candidato à reeleição Carlos Casteglione (PT), de comprar votos de candidatos de sua coligação.
Na época, havendo o processo, não me omiti e fornecer vídeos de monitoramento da empresa para contribuir em desvendar possível crime eleitoral. E assinei declaração me colocando à disposição da Polícia Federal para quaisquer esclarecimentos sobre a parte que me competia.Nunca fui chamado para tal investigação!
Em ato derradeiro de Juízo da Primeira Instância, por exigência da corregedoria do TRE, a Justiça teve de dar provimento à ação, quando reafirmei o conteúdo das fitas não só de imagem como de áudio. Mas, a sentença da juiza do feito levou em conta a mesma premissa do colega anterior. A soma dos candidatos não alterariam o resultado das eleições, uma sentença meio inusitada, levando a crer que se pode comprar votos desde que não se mude o resultado do pleito.
Acaso os desembargadores entenderem que precisa-se investigar se o vídeo foi montado ou fraudado, terá sido uma tacada de mestre do Ferraço. Perdeu, mas não parou o processo e, ainda, me chama para dentro dele, tirando-me da acomodação, passados quase 5 anos. Deve entender que, assim, eu tomaria partido eleitoral em curso, lembrando que não sou autor da mencionada ação danificada.
Augusto Nunes ridiculariza Russomano por causa de Igreja
Não tenho a mínima simpatia pelo deputado Celso Russomano (PRP), candidato a prefeito de São Paulo, mas ele está sendo ridicularizado por jornalista da grande Imprensa porque declarou que , se eleito, prefere “regularizar as igrejas, aos invés de fechá-las”. Completou: “quem está na Igreja não pratica crimes”.
Logo, o jornalista Augusto Nunes,colunista da Revista Veja, expandiu o “regularizar” como permissividade para funcionamentos dessas instituições de modo “irregular”. Isto é deturpar! O raciocínio de Russomano está correto. Melhor não dificultar aberturas de Igrejas do que fechá-las. Oras, boates e bares brotam em profusão, contribuindo com o alcoolismo e o incentivo à criminalidade, a maioria dessas agências sem nenhuma fiscalização. Dois pesos e duas medidas.
O colega não deveria subtrair um texto e jogá-lo fora de contexto, aleijando uma idéia mais digna do que muitas por ai vomitadas pode demais candidatos a prefeito.
Fique claro, não estou avalizando o caráter e nem o candidato paulista. Estou, simplesmente, defendendo uma idéia por ele verbalizada.
Link de Augusto Nunes: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/sanatorio-geral/religiosidade-e-isso/