No artigo anterior destaquei o sentimento do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB) sobre sua visão dos aliados vistos como traidores porque não iam votar conforme sua vontade. Refiro-me ao arquivamento do projeto para o fim do pedágio.
Mais não posso sonegar informação de bastidor sobre reunião antecedente a toda confusão, envolvendo deputados, manifestantes e confrontos com a tropa de choque da Polícia Militar. O governador foi artífice da continuação do pedágio, influindo a Assembleia Legislativa.
Em reunião fechada no Palácio Anchieta com os deputados, inclusive com a estranha presença do senador Ricardo Ferraço (PMDB), – ausência de alguns parlamentares – a ordem de pedir vista no projeto para procrastinar a votação foi do Chefe do Executivo Estadual.
Até a escolha de quem chamaria para si a responsabilidade de usar o regimento no sentido de apreciar o projeto foi do governador. O eleito foi o deputado Gildevan Fernandes (PV) que reside no norte do Estado, em Pinheiros. O destinado cumpriu a tarefa.
O que Renato Casagrande não contava era com a reação do povo. Os defensores do fim do pedágio da Rodosol – contrato obscuro para os capixabas – tiveram ataque de nervos coletivo, invadindo as instalações da assembleia Legislativa e lá fizeram acampamento.
O governador ficou muito mal na história. Afinal, ao argumentar não ter sido ele subscritor do contrato, foi surpreendido pela reposta do autor, ex-governador Victor Buaiz que lembrou os fracos de memória o protagonismo de Renato Casagrande como seu vice, cúmplice do ato.
É sabido, notório, o poder econômico presente num debate como este, afinal a empresa exploradora do pedágio é grande financiadora de políticos, com Casagrande puxando a fila. E com esta vitória sobre os capixabas, óbvio, a contrapartida é certa para todos os parceiros leais à manutenção dessa fábrica de fazer dinheiro.
O presidente da assembleia Legislativa, Theodorico Ferraço (DEM), teve um papel feio na história. Jogou com o desespero do governador enquanto pode e prometeu aos manifestantes que ocuparam seu Gabinete por dias suas presenças na votação. Mentiu. Foram excluídos e tiveram de enfrentar ainda os cassetetes da Tropa de Choque da Policia Militar pelo lado de fora.
Final da ópera: 14 deputados não se curvaram ao governador, no acordo mencionado em reunião de trato e 16 escreveram suas histórias, certamente, atendendo não só ao interesse do Executivo como de si próprios. Arquivaram o projeto.
Do sul do Estado, somente o deputado estadual Glauber Coelho votou pela cobrança do pedágio. Ele tenta explicar o inexplicável, afinal é melhor ficar do lado do povo do que do governador. Creio que essa história não acabou.
*Jackson Rangel Vieira é jornalista