Estou pronto

No século em quem vivemos, sabemos de tudo e não sabemos de nada. Partindo desta premissa, a ignorância nos consome. O nosso propósito maior está no agora sem nenhuma garantia do relativismo da vida e do absolutismo da morte, independente de religiões e crenças.

Entramos na fase centrífuga. Nosso ego afasta e distancia tudo e a todos. Com os habitantes da terra adoentados de corpo e alma, a fuga nem é uma opção. A humanidade foi destituída de sua redenção por causa de um fruto e de uma serpente falante na árvore da ciência.

A gente quer acreditar em mundos paralelos sem cobra e sem sexo. Sem compromisso com essa difusão de doenças mentais e físicas, um novo céu e uma nova terra. Antes, estamos espremidos entre o tempo e o espaço. Somos manco na equação dos instantes construídos desde da placenta.

Estou pronto – primeira pessoa – para ir, ficar e voltar. Estou preparado para passar pelo portal. Para sentir qualquer disponibilidade disponível do que não sei. Estou pronto para qualquer decisão e seus efeitos colaterais. Meu HD está quase cheio. Estou pronto para uma formatação.

Esta crônica, talvez não tenha nenhuma pouco de serventia para o leitor. Contudo, sinto-me bem em externar que estou pronto para o que isso significar.

Um dia fatídico

Um fundo musical melancólico. Múltiplas escolhas. Ouvindo palavras por ouvir. Sentindo um final infeliz. Vidas de dores de todas as intensidades, mas sem arrependimento. Todos crescem com o respirar, ofegante ou não. Quando se nasce, não se pertence. Não se busca algo claro nas frases enquanto faltar ordem, apenas muitas curvas.

Desistir não é uma opção. Depois do reinício vem outros e mais términos de ciclos. Uma esquizofrenia. Existe longo caminho de formação de caráter dentro de uma personalidade esbanjando valores relativos. O absoluto? Sim, existe, tudo que você é, na sua perspectiva, é inflexível, literal, sem interpretações. Somente aos olhos alheios você é subjetivado!

Um dia difícil produz lamentações. Sensação de impotência. Motivo para abrir o mar de lágrimas. Mudar a montanha de lugar é bem mais fácil do que vestir uma alma a prova de vaidades, orgulho e narcisismo antropofágico. Escrever sem compromisso com a lógica é o ápice da felicidade a partir de si mesmo. Pontuar, virgular e reticência.

Quando o corpo desmancha, quase nenhuma serventia tem. Só o cérebro funcionando é a proximidade do abismo porque ninguém se afeiçoa pelo seu pensar. Somente o físico atravessa a ponte da satisfação e eclode em prazer pleno por alguns segundos. A mente guarda a verdadeira vida, os segredos mais indescritíveis, inefáveis.

Hoje, foi um dia fatídico. Daqueles, sem mensuração, sem altura, profundidade ou largura. Um dia fatídico.

Afinal, quem é normal?

São 2h19 da manhã do dia 05 de maio de 2022. Horário da primeira teclada. Pois bem! Há muita confusão no mundo de antes, de agora, e também no porvir. Afinal, existem seres racionais e irracionais andando por aí! As regras para estabelecer algum controle moral e ético pela perspectivas de seus autores, ao meu ver, limitam o expansionismo mental.

Essa limitação behaviorista, de observar os elementos subjetivos, contribui para o avanço das maiores idiotices comportamentais. O sistema está à beira da implosão. As pessoas estão em um campo de perguntar-se: “sou normal? Por qual parâmetro? Qual a referência digna de confiabilidade para ofertar um diagnóstico por conta dessa histeria coletiva.

A saúde mental é negligenciada em toda organização cultural que se pode ter notícia. Cuida-se do corpo muito mais por exigência dessa loucura em chegar ao ápice narcisista como modo de aceitação e inclusão nesse hospício chamada mundo. A religião e a psiquiatria são irmãs siameses captadoras de lóbulos adoentados que internam pacientes em prisão eterna. Prometem a cura, a normalidade, o padrão aceitável. Você que chegou até aqui lendo este texto é normal?

Uma pessoa normal, pelo meu olhar, é aquela que ama o próximo – independente da expressão ser religiosa – Quando se importa mais com o outro do que consigo mesmo, então, deduz-se que esse eu empático está muito adiante do que a maioria sobre compreender o significado da conexão de todos os fragmentos do espaço e do tempo como um só elemento regente fora da caixa de pandora.

Entendeu? Se entendeu, você é normal!

A dúvida do existir

Penso que a maioria dos quase 8 bilhões de pessoas não exerce suas funções plenas em direção à vontade de viver. Apenas, resiste e tem medo do antagonismo, a morte. É diferente entre a satisfação pela vida e a insegurança e a dúvida sobre o além do último respiro.

Os mais corajosos se matam, mesmo sendo chamados de covardes. Os medianos preferem não ousar a tanto ainda que já perderam o sentido e o entusiasmo de existir pelos corredores dos múltiplos sentimentos vagantes dentro de si, sem compreender o propósito.

Não tenho dúvida que a melhor fase do tempo, com raras exceções, era o da irresponsabilidade juvenil, cujos medos se limitavam a lendas urbanas e contos dos pais para disciplinar alguns impulsos fora da tradição. A inocência é bela, espetacular!

A linha do tempo adulta foi se tornando um sacrifício, por vezes, sem margens racionais. Há uma degeneração moral. O hábito vicia e mata até a lembrança do primeiro arrependimento. Tudo fica comum, normal. Exala uma sensação do fim de limite. Viu, ouviu, tocou, cheirou e degustou o mal e o bem em toda sua forma. Seria como voltar ao Paraíso após o diálogo com a serpente.

A vontade de viver perde para o medo da morte. Por isso, a resistência. O desconhecido apavora. Logo, a falta de empatia para uma geração inumana progressiva para o estágio animalesco, instintivo. O ponto: uma espécie mata a sua espécie por um celular como um tipo de regresso à caverna de Platão.

Quando morrer é viver

São 5h00 da manhã do dia 07 de abril de 2022. Eu pensava que dormir era uma perda de tempo, um estado de morte com respiro. A medicina diz ao contrário. A necessidade de dormir é obrigatória. Bem! existem muitas pessoas que sofrem da síndrome do drácula.

Os pensamentos noturnos, em geral, são inspiradores para enxergar a vida mais triste pelo acordar com a inerente responsabilidade de compromissos e responsabilidade. Alguns chamam isto de ansiedade, estresse, depressão e causas assemelhadas de dormir acordado.

Dormir é estar morto para o otimista. Para o pessimista, o viver é a própria vontade de morrer. No meu caso, sempre fui noturno. Se andar comigo, pode acordar de cabeça para baixo. A fina flor do auto conhecer, acho, acontece na solidão da noite para a madrugada até ao amanhecer.

Quando o HD está cheio é preciso descarregar em outra mente. Essa transferência não é fácil. Entornar suas emoções e sentimentos, parte, só um transplante tridimensional ainda não descoberto. Logo, você sente que o limite é o fim da missão, da jornada, sem mais destino.

Por isso, não dá para julgar como atitude covarde aquele (a) que desiste de dormir e acorda. Quando a repetição das luas e dos dias são rotinas de um ser sem perspectiva, então, de fato, morrer é viver na passagem para a linha infinita do tempo. A maioria quer ficar. Outra parte quer ir embora.

No fundo, você percebe que não tem mais corações e que existe um tempo ilimitada para seus parcos sentidos. Por isso, a ambição de querer tocar, obter, ter e não envelhecer. Aos mais desapegados aos instintos primitivos, o conformismo, mesmo doloroso, produz resultado mais nobre para esperar o não existir.