Inspirado para a realidade perfeita

Nunca um fragmento de segundo é igual, como digital do dedo. As diferenças são notadas com tempo. Quando o corpo não corresponde. A mente mais perceptiva releva ofensas antes intoleráveis. A maturidade com envelhecimento conclui o pensamento primeiro.

Nada mais importa. Seus sonhos estão mais próximos da eternidade. Já não mais levitam ao alcance de ser realizados. Resta aguardar a realidade pavimentada ao longo do tempo. O prazer é apenas obrigação, não mais um desejo buscado e viciante.

A semelhança de realidades não implica em igualdade de espaço e vida. As dores também se distinguem entre tantas sentidas do ventre ao túmulo. Por isso, filósofos ousaram separar relativismo do absolutismo. Abaixo da atmosfera, relativo. Acima, absoluto.

Os olhos são denunciadores. O que se vê torna parte de você. Imagina, neste mundo cruel o que se é então! Navegando em bolhas de dúvidas, ser cego é uma virtude para poucos. Os cincos sentidos forçam a existência de um sexto: a fé.

As palavras jamais chegarão ao ideal de expressão em paralelo com a mente criativa. A imaginação poupa a humanidade da realidade instintiva, selvagem. Ainda assim, não nos livra da loucura parcial, inerente aos racionais, aos nascidos do pó.

Chega um triste dia de compreender a realidade, sem mais direito a sonhar. Tudo passou. Aconteceu. Chama-se, isto, de passado. Tem quem não chega a tanto, morre antes ou enlouquece plenamente. A este ponto, realismo e surrealismo se reencontram.

Só quando se controlar a fonte dos pensamentos, o ser terá paz de espírito. Não será traído. Não terá sentimento de culpa. Não será surpreendido. Quando isto for possível, o homem será autor de sua obra, responsável, plenamente, pelos seus atos, sem punição pelo destino.

Os pecados que habitam em nós

 

É natural não desconhecer do pecado morador dentro de nós, sem pagar aluguel. Não é convencional confessá-lo, até mesmo para si. Os nossos medos adoecem a alma. Uma vez, confrontados com a consciência, as algemas são quebradas e a liberdade é jubilada como estilo de vida único. Raro.

Falange de mentiras forma exército quase imbatível. A inverdade contumaz, diária, alimenta e engorda o ego, porque, geralmente, é pai e mãe da vaidade. Sedutora, palavras prontas massageiam o interior mal formado, sem auto-estima, produzindo sensações de domínio e poder.

 A mentira é o pecado mais natural dos pecados possíveis, porque o seu genitor, impiedosamente, troca a ordem divinal e transgride, pelo engodo, as regras dos sentimentos mais nobres, como o amor. Ao meio metro do outro, o outro é capaz de esconder as maiores perversidades em nome da carência terrena.

 Bom alvitre todos não precisassem se esconder de si mesmo, aceitando seu estar, seu ter e seu ser. No momento, da dissimulação covarde, despreza-se a libertação em troca de existência medíocre. Estimulados pelos pecados não apagados, impede-se a emersão da nova criatura, à disposição de todos em forma de renovação de mente.

Impiedosamente, chicoteamos os nossos lombos e aplicamos choques virtuais mais do que podemos suportar em troca do prazer ninfomaníaco. O amor está perto do pecador (a), mas não há como enxergá-lo, nem tocá-lo, pois é impossível amar com o pecado da mentira no processo de metástase.

O egocentrismo é fatal no caso desse implacável inimigo da humanidade: o pecado, no destaque, a mentira. Sofremos horrores por esta escravidão. Chibatadas infinitas enquanto vão morrendo as células, mortificando o corpo e humilhando o espírito. Como escapar da tocaia dos descaminhos construídos ao longo da vida?  Ceifamos o que plantamos,

Entre o primeiro e o último parágrafo, o enigma do calabouço que aprisiona a todos nós, a mim e a você, em circunstâncias, talvez, diferentes, mas com o mesmo modo operacional, é decifrado com uma velha e conhecida passagem bíblica: II Samuel 12:5-7.

Contagem regressiva para o reinício

 A partir de algum momento, o cronômetro é acionado. Deixa-se de crescer, preparando-se para o renascimento. Nada surpreende. Tudo debaixo do céu é natural. Não há fenômenos para acrescentar ao relógio com ponteiros regulando inversamente. A esperança não vem mais da vida, mas da reavida.

As regras são já definidas, entre epicureus, pelos prazeres como ápice da existência e os estóicos, pela rigidez das leis morais, implacáveis com a fraqueza da carne, entre tantos filos, o respirar é apenas um detalhe. Nasce-se, chorando pelo desconhecido. Finda-se, em geral, de igual modo, pelo conhecido.

 Não se consegue conhecer a si mesmo. Se fosse possível, a maldade seria evitada. Não se conhece muito menos que caminha com você, pois se fosse possível, todos estariam desvendados e os eventos benignos seriam mais atraentes, sem exigir esforço. Contudo, a vida é um espetáculo inigualável. Sem fim.

 Relato assim narrado, prolixo de propósito, melancólico pelos olhos de alguns como no apreciar quadro abstrato, vendo o que deseja ver, bem como efusão de otimismo, pela exaltação à eternidade, torna-se algo pessoalíssimo, intimista, de patrimônio somente do autor. Mas, à disposição de qualquer observador.

 A gente olha para o céu, fascinada. Olhar para a terra, por onde anda os pés, é menos interessante, porque, geralmente, caminha por descaminhos do coração, gestando dores e lágrimas. As galáxias são distantes, formatam esperança, sem mencionar beleza inalcançável. Entre mitologia e a biologia, o que vem do espaço estimula o córtex.

 Depois de chegar até estas últimas palavras, mais provável tenha perdido seu tempo, o mesmo do pêndulo retroativo. Somente o presunçoso escritor se beneficia da sua própria tese, não podendo ser contestado por não vendeu seus direitos e ninguém os compraria, pois não tem valor, estimado apenas para os apreciadores do óbvio.